Niesse, o duende norueguês
Neste artigo, conheça o duende mais famoso do folclore escandinavo, seu temperamento genioso, o que ele mais gosta de comer e porque não se deve nunca, JAMAIS, esquecer de deixar para ele um bom prato de mingau com manteiga. Veja também como o duende se tornou associado à época do Natal.
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Ilustração de Jenny Nyström |
Similar em aparência aos gnomos de jardim e aos anões, um nisse (como o duende é conhecido na Noruega e Dinamarca) tem o aspecto de um velho feioso de barba e cabelo grisalhos, de olhar matreiro, e tem mais ou menos o tamanho da cabeça de um cavalo. O folclore norueguês o descreve com apenas quatro dedos, mas essa deformidade física é um detalhe que pode variar de história para história. Tradicionalmente, veste-se de tons cinzentos, usa um gorro de lã tingida , meias e botas de couro — semelhante a como se vestia um lavrador escandinavo medieval. Suas roupas estão sempre surradas. Apesar do tamanho diminuto, é dito que possui grande força e disposição para o trabalho. Tem um gosto por travessuras e nunca perde uma oportunidade de punir ou presentear alguém. Por causa de sua ligação ancestral com a terra e a propriedade, na Suécia ele é conhecido como tomte (ou tomtenisse); na Finlândia o chamam de tonttu.
Em sueco e finlandês, tomt e tontti querem dizer "pedaço de terra, lote, terreno". Então o tomte é o "pequeno fazendeiro", o pequeno familiar que vive nas imediações do terreno. É um ser solitário, independente e misterioso, suas únicas companhias são os animais. Frequentemente é representado ao lado de um gato, pois compartilham com esses animais muitas características.
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O nisse perambula de noite sempre silencioso e solitário, e cuida dos animais que encontra |
Habita de preferência a zona rural, refugiando-se nos celeiros e estábulos das fazendas. O que faz com que os noruegueses também se refiram a ele como fjøsnisse (nisse dos estábulos). Uma vez que escolhe uma propriedade como lar, o nisse torna-se secretamente o seu protetor e assume grande responsabilidade por ela. Desde que se sinta respeitado, esforça-se para ajudar o fazendeiro e sua família nas tarefas cotidianas. Dizem que durante a noite, enquanto a família dorme, o nisse perambula pela casa e fazenda, terminando tarefas inacabadas, protegendo a propriedade da má sorte e zelando pelos animais nos estábulos. Gosta especialmente dos cavalos, e demonstra seu afeto trançando-lhes as crinas e caudas em padrões estranhos. Não é sábio desatar tais nós, pois isso poderá irritar o nisse que os trançou.
Raramente é visto. O nisse é extremamente silencioso e tem a capacidade de se tornar invisível. Muitas vezes, tudo o que nós humanos podemos perceber de sua presença é um movimento discreto de canto de olho. Na maior parte do tempo, no entanto, podemos encontrar apenas os rastros e evidências de sua passagem (objetos que somem ou mudam de lugar, os animais alvoroçados sem motivo, o gato olhando fixo para algo invisível). Os gatos, aliás, não só o enxergam como brincam com ele - ou são vítimas de seus truques, como podemos ver na gravura mais abaixo.
Raramente é visto. O nisse é extremamente silencioso e tem a capacidade de se tornar invisível. Muitas vezes, tudo o que nós humanos podemos perceber de sua presença é um movimento discreto de canto de olho. Na maior parte do tempo, no entanto, podemos encontrar apenas os rastros e evidências de sua passagem (objetos que somem ou mudam de lugar, os animais alvoroçados sem motivo, o gato olhando fixo para algo invisível). Os gatos, aliás, não só o enxergam como brincam com ele - ou são vítimas de seus truques, como podemos ver na gravura mais abaixo.

Em geral, uma fazenda que se mantém bem cuidada e próspera indica que existe um nisse benfazejo por perto, provendo boa sorte e fortuna. A ajuda deste duende também diz muito sobre o caráter dos anfitriões, uma vez que essas criaturinhas não suportam má-educação, preguiça ou crueldade com os animais. Alguns fazendeiros noruegueses reivindicam orgulhosos, mesmo nos dias correntes, a presença de um nisse vivendo em seus estábulos.
Mas atenção! Nunca é sensato enfurecer um duende ou faltar-lhe com a devida etiqueta. O nisse é conhecido pelo seu temperamento instável e acessos de humor. Ofende-se com o menor dos detalhes. Eis alguns dos comportamentos mais comuns para irritar um nisse: esquecer de recompensá-lo com o mingau para ele comer; efetuar mudanças na fazenda sem aviso prévio (o nisse tem uma personalidade tradicionalista e prefere que tudo fique exatamente como ELE arrumou); deixar o estábulo sujo e desarrumado por motivos de desleixo; desrespeitá-lo de alguma forma (quando o fazendeiro urina no estábulo, xinga em voz alta enquanto trabalha pela fazenda, reclama ou fala mal do nisse...) e principalmente quando tratam com violência os animais da fazenda.
Se ofendido, suas peças (até então inofensivas e inconvenientes) podem se tornar realmente perigosas! Os truques mais comuns de um nisse são mudar as coisas de lugar, roubar ouro e prata, colocar os objetos de ponta cabeça. Nos casos mais graves, no entanto, estão travessuras como arruinar as plantações, fazer a vaca parar de dar leite ou atacar qualquer que seja a fonte de renda da família. Essa última, na verdade, é a marca característica de um nisse zangado.
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O nisse ou tomte adora pregar peças! |
Se ofendido, suas peças (até então inofensivas e inconvenientes) podem se tornar realmente perigosas! Os truques mais comuns de um nisse são mudar as coisas de lugar, roubar ouro e prata, colocar os objetos de ponta cabeça. Nos casos mais graves, no entanto, estão travessuras como arruinar as plantações, fazer a vaca parar de dar leite ou atacar qualquer que seja a fonte de renda da família. Essa última, na verdade, é a marca característica de um nisse zangado.
Uma história popular norueguesa nos dá um exemplo de como o nisse pode ser vingativo quando irritado. A lenda conta que, em certa Véspera de Natal, uma dona-de-casa quis pregar uma peça no nisse para variar. Fez isso escondendo a manteiga bem no fundo da cumbuca de julegrøt. À noite, quando o nisse chegou para comer, ele viu que a manteiga estava faltando e ficou furioso. Foi até o estábulo e matou a melhor vaca leiteira. Com isso ele queria demonstrar o quão descontente estava com a mesquinharia dos humanos ao negar-lhe um pouco de manteiga. Depois, como sentia fome, voltou e comeu o mingau mesmo assim. Só então ele descobriu a manteiga! O nisse ficou tão arrependido que caminhou noite adentro até a fazenda vizinha, roubou a melhor vaca de lá e a colocou exatamente no lugar da que ele havia matado.
Aliás, roubar dos vizinhos para auxiliar a fazenda sob sua proteção parece ser rotineiro para esses duendes. É o que podemos ver demonstrado na lenda O Nisse que Roubava Feno:
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Ilustração de Jenny Nyström |
Havia certa vez um fazendeiro que não tinha mais feno para alimentar seus animais. Como era o auge do inverno, com certeza os bichinhos iriam morrer de frio e fome. Desamparado, um dia ele estava reclamando em voz alta, quando ouviu alguém dizer "Tenha calma! Eu vou ajudá-lo". O fazendeiro, espantado, olhou em volta mas não pôde descobrir de onde a voz viera. Alguns dias se passaram e ele notou que seus animais estavam prosperando, apesar de não terem comida alguma!
Certo de que o destino lhe sorria, o fazendeiro decidiu cruzar o árido gelo até uma aldeia vizinha para comprar mais feno. Quando estava no meio do caminho, avançando sofregamente, um homenzinho apareceu e perguntou-lhe, um tanto irritado, aonde estava indo. O fazendeiro explicou a situação e o pequeno homem disse que não havia necessidade, pois ele cuidaria da situação. O fazendeiro, confuso, voltou para casa.
Naquela noite, olhando pela janela, ele avistou à distância um homem muito pequeno conduzindo uma de suas vacas sob o luar. "Se continuarem nessa direção", pensou o fazendeiro, "eles irão acabar na fazenda vizinha". Pois a vaca e o homenzinho continuaram o caminho, resolutos.
Horas depois, quando retornaram, a vaca estava carregada de feno até não poder mais. Só então o fazendeiro se deu conta de que o homenzinho era na verdade um nisse que andara "coletando" feno para seus animais.
Certo de que o destino lhe sorria, o fazendeiro decidiu cruzar o árido gelo até uma aldeia vizinha para comprar mais feno. Quando estava no meio do caminho, avançando sofregamente, um homenzinho apareceu e perguntou-lhe, um tanto irritado, aonde estava indo. O fazendeiro explicou a situação e o pequeno homem disse que não havia necessidade, pois ele cuidaria da situação. O fazendeiro, confuso, voltou para casa.
Naquela noite, olhando pela janela, ele avistou à distância um homem muito pequeno conduzindo uma de suas vacas sob o luar. "Se continuarem nessa direção", pensou o fazendeiro, "eles irão acabar na fazenda vizinha". Pois a vaca e o homenzinho continuaram o caminho, resolutos.
Horas depois, quando retornaram, a vaca estava carregada de feno até não poder mais. Só então o fazendeiro se deu conta de que o homenzinho era na verdade um nisse que andara "coletando" feno para seus animais.
Bem pragmáticos, eu diria...
Um duende natalino
Em meados do século XIX, na Suécia, a partir de um poema natalino de Viktor Rydberg (Tomten) e das belíssimas ilustrações de Jane Nyström, a figura do duende sofreu modificações um tanto drásticas: de caráter bondoso, passou a ter barba branca comprida e usar um gorro vermelho. Assim, com a popularidade das ilustrações e do poema, o tomte tornou-se uma figura cada vez mais associada à época natalina e ao Solstício de Inverno (Yule). Além disso, em 1840, na Dinamarca, o tradicional duende dos estábulos já havia se tornado o responsável por entregar os presentes natalinos para as crianças, um costume novo que, graças ao comercialismo crescente e às tradições do Santa Claus e Father Christmas, se espalhou rapidamente por toda a Escandinávia.
Na Dinamarca e Noruega, a versão natalina do duende é chamada de Julenisse (Yule + nisse). Já na Suécia, é o Jultomte (Yule + tomte). Embora tenham sofrido grande influência do Papai Noel norte-americano, o Julenisse e o Jultomte ainda guardam muitas características da cultura local. Não vivem no Polo Norte (às vezes habitam alguma floresta nas proximidades), são pequenos, magros, solitários, não voam em trenós e continuam adorando o mingau que algumas pessoas ainda deixam fora de casa ou nos estábulos. O mingau, talvez, seja o ponto de encontro entre as antigas tradições e as modernas.
Então, caso você esteja de férias em algum país escandinavo, não espere pela visita do Papai Noel, mas sim a de um duende doméstico. E não espere que ele desça pela chaminé, tampouco! O Julenisse entra pela porta da frente, durante a ceia, e distribui os presentes diretamente para os pequenos. Não se espante se ele aparecer na companhia da Julbock, a Cabra do Yule (um símbolo pagão muito antigo e ainda em voga na cultura escandinava). Afinal, era dela a responsabilidade de trazer presentes nos tempos antes do Jultomte. Porcos e gansos também são companhias comuns, pois simbolizam fartura.
God Jul! Boas festas!
Texto escrito por Charles Petrus
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