Tratado sobre o pinheiro na fabricação de varinhas

 Pinheiros estão dentre as madeiras de uso mais comum hoje em dia, embora nem por isso deixem de ser extraordinárias ao que concerne às artes mágicas. Uma árvore conhecida há milênios e tida como sagrada para muitos povos, o pinheiro (todas as suas variedades) são inigualáveis em sabedoria e conhecimento, preferindo especialmente os bruxos e bruxas que nutrem dentro de si a paixão pelo saber. Produz uma magia das mais consistentes, difícil de ser quebrada. Favorece feitiços complexos e antigos, visualizações mentais poderosas, encantamentos protetores, feitiços de criação e trabalhos com magia natural. Não se dá bem com encantamentos tolos ou fúteis.






Seu elemento é o ar, e seu reino é o mental. Bom relacionamento com a terra e, em menor grau, com o fogo. Necessita trabalhar a água dentro de si e avivar a chama interna, por vezes esquecida.

O pinheiro é altivo por natureza, e pode por vezes parecer distante ou austero, confortável apenas com suas próprias ideias. Mas não se engane. Ele é extremamente sensível ao que cresce ao seu redor e, quando tocado, não medirá esforços para proteger os desafortunados. Famosas são as histórias da nobreza do pinheiro, protegendo árvores e animais menores do gélido frio do inverno. Junto com o abeto e outras coníferas, é uma das árvores mais nobres que existem na floresta. Por este motivo, recusa-se a trabalhar com bruxos egoístas.

Embora pacífico a maior parte do tempo, quando resolve entrar um uma batalha – e ele só o faz por um bom motivo – não há quem fique em seu caminho. Por ser uma árvore de atributos mentais e apolíneos, não trabalha muito bem as emoções, e pode agir com impetuosidade e desproporção. Mostram-se temerários em batalhas, e a experiência adverte que bruxos instáveis portadores de varinhas de pinheiro devem ser deixados em paz.

Uma peculiaridade comportamental desta varinha deve ser considerada, uma vez que sempre causou certa perplexidade dentre os fabricantes antigos. Um bruxo ou bruxa mediano e  mentalmente acomodado pode passar a vida inteira sem desfrutar de todo o potencial desta varinha (o que nos dá uma pista do tipo de pessoas que ela aprecia). E é exatamente em momentos de extrema dificuldade e risco que varinhas feitas dessa madeira tendem a revelar todo o seu poder. Não raro agem por arbítrio próprio, evocando feitos mágicos antiquíssimos jamais sequer imaginados por seu portador (chamamos a esse efeito raro de evocando praedecessorum sapientiam).

Esta peculiaridade levou à criação de um ditado popular, encontrado em papiros nas alas mais recônditas da Biblioteca de Alexandria, e que sobreviveram até os tempos medievais:

“Não importa o tamanho da escuridão, 
o pinheiro mostrará a direção”. 

(Mind thou not darkness depths, 
for pine shall get thee out of there). 

Este comportamento, a meu ver, pode ser compreendido facilmente se examinarmos a evolução do pinheiro através dos milênios. Sua resiliência e resistência é uma característica bem marcante e reveladora: além de ser capaz de sobreviver a nevascas e tempestades furiosas sem quebrar seu tronco, esta árvore resiste bravamente a incêndios, períodos de seca e outras condições severas. O pinheiro silvestre, conhecido como scotts pine, foi uma das únicas espécies de árvores a sobreviver à Segunda Era Glacial na Escandinávia. 

Sim, sim. Esta disposição que tanto espantou a meus colegas medievais (espanto que apenas evidencia o preconceito que alguns bruxos possuem por varinhas que agem por si só) vem da própria história milenar da espécie.  No mais fundo de seu íntimo, o pinheiro aprecia desafios, e por isso tem a tendência de mostrar seu maior desempenho quanto maior for a dificuldade que se apresente. Quanto mais desbravadora, aberta, instigadora e faminta por conhecimento for a disposição interna de seu companheiro (a), melhor a varinha se tornará ao longo dos anos.

A associação antiga da árvore com o Solstício de Inverno também deve ser levada em consideração. O Solstício é o período em que o Sol “renasce” de sua aparente morte. A escuridão cede lugar à luz e a vida da terra inicia seu longo despertar.  Ora, o apego do pinheiro com a vida seja talvez a característica mais conhecida desta árvore, capaz de viver centenas e até milhares de anos, além de jamais perder suas folhas: 

"Fir does mark the evergreen, 
to represent imortality unseen"

E sua íntima relação com o sol não deve ser ignorada. O pinheiro é uma árvore solar. O conhecimento é a luz que norteia o crescimento desta árvore, tanto interno quanto externo. É preciso luz para ver ao longe, distinguir o certo do errado, o que é  do que não é; é preciso igualmente clareza para olhar para dentro de si, e vencer as trevas de nosso mais profundo eu.





Conclusão: a varinha de pinheiro não apenas ensina, ela também aprende. Apesar de possuir um idealismo por vezes intolerante e de desenvolver certo orgulho por sua inteligência, o pinheiro mostra boa facilidade de adaptação a novas ideias. No fim, sempre vencerá a vontade de aprender com o bruxo ou bruxa que a empunhará.




Texto por Petrus de Andrada

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